sábado, outubro 25, 2008

Dilui-se no vento o tempo
Um laço que se desfaz
Um coração que se parte
Um amor que se vai

Tropeça no caminho
Corre ao infinito, voa
Pássaro veloz, atroz
Socorrido pela paixão

Tempo que não volta
Tempo que dilacera
Retorno sem espera
É o fim

quinta-feira, outubro 09, 2008

De amor não dói

- Eu estou falando, Silvio! Você não está me ouvindo??

Repetia indignada, enquanto recebia do marido um olhar de peixe-morto, ao som da televisão ligada numa partida de futebol.

- É a última vez que eu falo, hein! A última vez! Eu já estou cansada de ver você todos os dias sentado nesta cadeira, lendo jornal, de cueca samba-canção, como se o mundo ao seu redor estivesse parado e somente existisse você e essa barriga enoooorme. Já basta!!

Silêncio.

- Quantas vezes já te pedi para trocar a luz do quarto, hein, Silvio? Quantas? E a porcaria da pia do banheiro que fica sempre suja porque você esquece a tampa da pasta de dentes aberta?

(...) vai chutando e na traaaavvveeee!

- É um absurdo, parece que estou falando com as paredes. Silvio, responde alguma coisa! Eu estou falando com você.

Desliga a televisão, com raiva, e pega a almofadinha do sofá, ameaçando.

- Silvio, se você não prestar atenção no que eu estou falando eu vou te bater!

Estarrecido, o marido olha para a mulher, totalmente descontrolada, com os cabelos desgrenhados e aquela almofadinha horrorosa que havia sido dada de presente pela sogra. Simplesmente formidável!

- Silvio, você está rindo?! Eu aqui esbaforida e você aí rindo?!

E ecoa o som de uma gargalhada pela sala, ao mesmo tempo em que pancadas são dadas no homem barrigudo sentado no sofá.

- Mas você não tem jeito, não tem jeito, não te... me larga, me solta.

Silvio puxa seus cabelos com força.

- Ai, que iss...

É interrompida por um beijo. Até que ambos se olham e, ofegantes, caem na gargalhada, indo juntos para o sofá da sala.