De amor não dói
- Eu estou falando, Silvio! Você não está me ouvindo??
Repetia indignada, enquanto recebia do marido um olhar de peixe-morto, ao som da televisão ligada numa partida de futebol.
- É a última vez que eu falo, hein! A última vez! Eu já estou cansada de ver você todos os dias sentado nesta cadeira, lendo jornal, de cueca samba-canção, como se o mundo ao seu redor estivesse parado e somente existisse você e essa barriga enoooorme. Já basta!!
Silêncio.
- Quantas vezes já te pedi para trocar a luz do quarto, hein, Silvio? Quantas? E a porcaria da pia do banheiro que fica sempre suja porque você esquece a tampa da pasta de dentes aberta?
(...) vai chutando e na traaaavvveeee!
- É um absurdo, parece que estou falando com as paredes. Silvio, responde alguma coisa! Eu estou falando com você.
Desliga a televisão, com raiva, e pega a almofadinha do sofá, ameaçando.
- Silvio, se você não prestar atenção no que eu estou falando eu vou te bater!
Estarrecido, o marido olha para a mulher, totalmente descontrolada, com os cabelos desgrenhados e aquela almofadinha horrorosa que havia sido dada de presente pela sogra. Simplesmente formidável!
- Silvio, você está rindo?! Eu aqui esbaforida e você aí rindo?!
E ecoa o som de uma gargalhada pela sala, ao mesmo tempo em que pancadas são dadas no homem barrigudo sentado no sofá.
- Mas você não tem jeito, não tem jeito, não te... me larga, me solta.
Silvio puxa seus cabelos com força.
- Ai, que iss...
É interrompida por um beijo. Até que ambos se olham e, ofegantes, caem na gargalhada, indo juntos para o sofá da sala.
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cenas do cotidiano
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