sábado, fevereiro 16, 2008

O Valor da Senioridade

Hoje de manhã, sentada no ônibus a caminho do trabalho, vi um senhor de uns setenta e poucos anos cair no meio fio quando ia atravessar a rua. Levava umas três sacolinhas amarelas em suas mãos, dessas de supermercado, que em poucos minutos se espalharam pelo chão.

No primeiro momento, ficou ali, sentado, com os olhos desolados sem conseguir se levantar. Instantes depois, uma moça e um rapaz chegaram para ajudar, solicitando aos motoristas um pouco de paciência enquanto levantavam o idoso do chão.

Fiquei olhando a cena, agradecendo mentalmente a Deus por ter aparecido socorro. Acredito que a expressão de impotência nos olhos do senhor de cabelos tão brancos tenha me deixado com o coração apertado. Pensei, “quantas coisas ele já deve ter vivido, e hoje está ali, caído no chão, sentindo-se, provavelmente, tão impotente”.

Envelhecer não deve ser fácil. Você retorna a infância, pois se torna dependente do outro, mas sem a energia e vivacidade típicas de uma criança. Além disso, é um retorno sem graça: não desperta a atenção do outro, nem a compaixão. São poucos os que dão aos idosos o seu grande valor.

Ter muita idade é ter muito para contar. Histórias de amores e amantes, lágrimas e sorrisos, paixões e tormentas, conquistas e perdas, enfim, histórias desenhadas em cada ruga ou fio de cabelo branco, incalculáveis. São décadas vividas transformadas num tipo de conhecimento que somente arrecadamos ao longo da nossa caminhada. Ser velho é ser memória do tempo que já se foi.

É uma pena que nós, principalmente jovens, não consigamos enxergar a senioridade assim. Sem paciência, criticamos seus passos lentos na rua. Sem compaixão, somos incapazes de levantar e ceder nossos lugares no ônibus – seja ele reservado ou não para o idoso. Sem interesse, não ouvimos o que têm a contar na fila ou no banco da praça. “Um saco”, pensamos.

De fato, nem toda a maior idade sabe falar ou ouvir. Têm os que só reclamam e falam de doença, tanto que nem sabem como ainda estão vivos; têm os que desenvolvem manias, aquelas famosas “coisas de velho”; têm os que se tornam cabeças-duras ou gênios da maioridade, tudo o que você diz tem como resposta “já estou velho o suficiente para saber disso”; têm os carentes, que vão para a fila do banco só para bater-papo furado com o vizinho da frente.

Porém, se não dermos, nem que seja, o mínimo da nossa atenção, perdemos a oportunidade de ouvir um idoso que tenha participado de manifestações, vindo foragido de outro país, ou mesmo que tenha vivido um romance por cartas de amor. Sem a troca, não há aprendizado. E isso porque achamos que ser velho é sinônimo de ser chato.

Por favor, respeitemos os seus cabelos brancos e valorizemos as suas experiências. Encaremos suas chatices com risadas, mesmo que na hora sintamos um pouco de raiva. Deixemos que vivam seus dias, talvez os últimos, despudorados, com a felicidade de quem muito já fez e não tem mais nada a perder.

Sorte do senhor que, caído no chão, encontrou duas boas almas, cheias de compaixão, para ajudá-lo a se reerguer. Como recompensa, um sorriso sem graça de agradecimento, tão simples, tão singelo, mas que falou mais do que palavras – veio do coração.

Aos jovens solidários, eu diria, missão cumprida.

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